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05 janeiro 2009

Cattenacio à portuguesa...

A Liga Sagres, é das Ligas competitivas europeias a que regista até ao momento, a pior média de golos por jogo ( 2,17 ). Esta situação para além de preocupante deve levar-nos a considerar várias reflexões para tão fraco pecúlio. Serão os avançados os maiores culpados neste capítulo de mau aproveitamento em frente às balizas adversárias? Serão os defesas e guarda-redes os grandes responsáveis pela ineficácia dos adversários? Estamos a priveligiar mais o trabalho defensivo em detrimento das manobras ofensivas da equipa? Será a busca do resultado valorizada em demasia pelos treinadores da Liga em oposição ao futebol positivo, atrante, ofensivo e que atrai as multidões ao estádio?Está-se a evoluir para um sistema de "cattenacio" na Liga Sagres? Penso que a resposta poderá resultar um pouco da consideração de todas as perguntas mas a maior fatia de culpa deve ser atribuída aos técnicos e direcções! Desde avançados limitados na finalização de jogadas de golo à construção de modelos de jogo defensivos, tudo explica o fraco pecúlio de golos na Liga Sagres.
Já em várias ocasiões se lamentou a falta de intérpretes de qualidade na Liga, com capacidade técnica, disponibilidade mental e física para desenvolver um futebol atraente, objectivo, eficaz e que materialize em golos o bom jogo ofensivo das equipas, talvez essa não seja propriamente a realidade nesta temporada, pelo menos não em plantéis que se reforçaram com jogadores de qualidade para a linha avançada, mas ainda assim marcam-se poucos golos! O FC Porto tem Lisandro ( goleador-mor do último campeonato) Hulk e Rodriguez; o Benfica reforçou-se com Reyes, Suazo e Aimar e tem ainda Cardozo e Nuno Gomes; o Sporting segurou Liedson e dispõe ainda de Derlei, Postiga e Djaló; o Braga acrescentou a Linz, Meyong e Renteria; o Guimarães assegurou Douglas. Wesley ( Leixões ), William ( P. Ferreira, Néne ( Nacional ), Marcelinho ( Naval ), Djalma e Babá ( Maritimo ) completam o rol de bons executantes! O problema parece surgir de equipas como Setúbal, Académica, Trofense, Belenenses, Rio Ave, entre outros, que não dispõem de uma referência atacante e jogam constantemente pressionados pela necessidade de pontos para fugirem à cauda da tabela. Em alguns destes clubes, os melhores marcadores são mesmo defesas, casos do Setúbal ( Anderson do Ó ), Trofense ( Valdomiro ) e Rio Ave ( Gaspar ). A Académica apresenta ainda a curiosidade de nenhum jogador ter repetido a façanha de marcar mais do que um golo, já que dos sete golos (?!? já vamos na 13ª jornada ) marcados pela equipa todos foram apontados por jogadores diferentes. Domingos tem certamente muito a trabalhar para melhorar a qualidade do jogo ofensivo dos estudantes, ele que foi um ponta de lança com muitos golos no currículo. No sentido inverso às linhas atacantes, as defesas têm estado imperiais! É um facto que a fraca produção dos avançados está directamente ligada à qualidade defensiva dos adversários, quer pela utilização de esquemas tácticos que priveligiam o povoamento da defesa com muitos homens, dificultando e muito o trabalho dos avançados, quer pela qualidade de alguns bons defesas e guarda-redes a actuar na Liga Portuguesa. O privilégio dado para a consistência defensiva por parte da grande maioria dos treinadores da Liga, retira espaço para que os verdadeiros "artistas da bola" possam aparecer em jogo. Os esquemas tácticos rígidos, não esquecer que a grande maioria dos técnicos utliza o 4x4x2, não permitem liberdade criativa quer nas alas, quer no centro do terreno. Actualmente um ala que arrisque nas jogadas de um para um é de pronto assobiado pelos próprios adeptos, que deveriam aplaudir esse tipo de iniciativas. Casos como o do Quaresma na temporada passada e actualmente com Rodriguez e Hulk, mas também com César Peixoto no Braga, são severamente punidos pela critíca e adeptos. Porque arriscam no um para um e perdem a bola? Porque carregam a equipa para o ataque e o passe nem sempre sai bem? Porque tentam pormenores deliciosos e perde-se uma boa jogada de ataque? Mas todos se levantam das cadeiras para aplaudir e consideram por bem empregue o dinheiro do bilhete de jogo se puderem ver ao vivo golos como os do Hulk e Rodriguez, em pormenores fantásticos que deram em belíssimos golos muito recentemente. São estes mesmos golos, o sal que falta ao nosso futebol. Golos que nasçam da capacidade técnica, da criatividade mas também da capacidade de assumir o risco, empolgam os adeptos a quererem saltar do sofá e a assistirem no estádio a momentos de pura magia. São precisamente esses mesmos momentos de puro espectáculo que os técnicos procuram "tolher" com sistemas tácticos rígidos e com a equipa a jogar mais para não perder do que propriamente para ganhar, o que na maior parte das vezes resulta em fracos espectáculos de futebol e bancadas vazias. Repare-se na excelente campanha do Vitória de Setúbal na temporada anterior, que pelas mãos de Carlos Carvalhal adoptou um sistema táctico em 4x3x3, que não deixando de privilegiar a consistência defensiva, jogava um futebol atraente e de belo efeito, atraía público às bancadas do estádio do Bonfim, batia o pé aos grandes e almejou conquistar a Taça da Liga e a classificação para a Taça Uefa numa situação gravosa de ordenados em atraso. Em contraste, Daúto Fáquirá, com a generalidade dos mesmos jogadores do plantel, esta época adoptou o 4x4x2 para melhor povoar o meio-campo e a defesa, em detrimento da capacidade ofensiva da equipa. Resultado? Vitória de Setúbal com o pior ataque da Liga Sagres em parceria com a Académica, antepenúltimo da Liga, já arredado da Taça de Portugal, bancadas vazias mesmo contra os "grandes" e com bilhetes a preços de saldo, forte contestação ao técnico... Não são só os jogadores que devem querer assumir o risco, até porque eles são os mais penalizados pelos técnicos que os arredam da equipa. Devem ser os técnicos e as administrações a assumir a vontade de ter uma equipa a jogar sempre para ganhar em qualquer campo e estádio e não para perder por poucos como a generalidade das equipas nacionais. Os responsáveis em vez de se lamentarem com a falta de adeptos, devem querer atraí-los, oferecendo bons espectáculos de futebol a preços condizentes com a nossa capacidade económica, até porque quem ainda faz mexer a indústria do futebol são os adeptos. Seria preferível ter um estádio repleto com bilhetes a 5 e 10 euros do que um estádio vazio com bilhetes a 20, 30 e 40 euros. Jogue-se mais e trabalhe-se melhor para os adeptos!

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